sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mito e Filosofia

A questão 'Mito e Filosofia' trata do problema da ordem e da desordem no mundo. O homem, ao procurar a ordem do mundo, cria tanto o mito como a filosofia. Muitos povos da Antigüidade experimentaram o mito, que é um pensamento por imagens. Os gregos também fizeram a experiência de ordenar o mundo por meio do Mito. Estes perceberam que o Mito era um jeito de ordenar o mundo. A experiência política grega, ao longo dos anos, trouxe a possibilidade do pensamento como logos (razão), pois a vida na pólis impôs exigências que o mito já não satisfazia.
O nascimento da filosofia pode ser entendido como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos e que transmitiam aos jovens a experiência dos anciãos. Como narrativas, os mitos falavam de deuses e heróis de outros tempos e, dessa forma, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas.
Nesse contexto, os mitos eram um modo de pensamento essencial à vida da comunidade, ao universo pleno de riquezas e complexidades que constituía a sua experiência. Enquanto narrativa oral, o mito era um modo de entender o mundo que foi sendo construído a cada nova narração.
As crenças que eles transmitiam ajudavam a comunidade a criar uma base de compreensão da realidade e um solo firme de certezas. Os mitos apresentavam uma religião politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas concentrada na tradição oral, é isso que se entende por teogonia. Vale salientar que essas narrativas foram sistematizadas no século IX por Homero e por Hesíodo no século VII a.C.
Ao aliar crenças, religião, trabalho, poesia, os mitos traduziam o modo que o grego encontrava para expressar sua integração ao cosmos e à vida coletiva. Os gregos a partir do século V a.C. viveram uma experiência social que modificou a cotidianidade grega: a vivência do espaço público e da cidadania. A cidade constituía-se da união de seus membros para os quais tudo era comum. O sentimento que ligava os cidadãos entre si era a amizade, resultado de uma vida compartilhada.
As narrativas míticas tentavam responder as questões fundamentais, como: a origem de todas as coisas, a condição do homem e suas relações com a natureza, com o outro e com o mundo, enfim, a vida e a morte, questões que a filosofia desenvolveu no decorrer de sua história. Mas aqui podemos formular outra questão: a filosofia nasceu da superação dos mitos, mas foi uma superação gradual ou um rompimento súbito? Para tanto, temos que primeiramente identificar algumas diferenças básicas entre os mitos e a filosofia.
O Mito (Mythos) é narrado pelo poeta-rapsodo, que escolhido pelos deuses transmitia o testemunho incontestável sobre a origem de todas as coisas, oriundas da relação sexual entre os deuses, gerando assim, tudo que existe e que existiu. Os mitos também narram o duelo entre as forças divinas que interferiam diretamente na vida dos homens, em suas guerras e no seu dia-a-dia, bem como explicava a origem dos castigos e dos males do mundo. Ou seja, a narrativa mítica é uma genealogia da origem das coisas a partir de lutas e alianças entre as forças que regem o universo.
A filosofia, por outro lado, trata de problematizar o porquê das coisas de maneira universal, isto é, na sua totalidade. Buscando estruturar explicações para a origem de tudo nos elementos naturais e primordiais (água, fogo, terra e ar) por meio de combinações e movimentos.
Enquanto o mito está no campo do fantástico e do maravilhoso, a filosofia não admite contradição, exige lógica e coerência racional e a autoridade destes conceitos não advém do narrador como no mito, mas da razão humana, natural em todos os homens.
O pensamento mítico é por natureza uma explicação da realidade que não necessita de metodologia e rigor, enquanto que o logos caracteriza-se pela tentativa de dar resposta a esta mesma realidade, a partir de conceitos racionais.
Num primeiro momento a filosofia racionalizou o mito, em seguida despojou-se, das figuras alegóricas que representavam a origem das coisas, substituindo gradualmente às divindades que representavam os elementos da natureza separando a mesma de sua roupagem mítica, tornando-a objeto de discussão racional.

Fonte: Filosofia/vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p.
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Reflexões sobre ética

A ética é o estudo dos fundamentos da ação humana. Aristóteles e Sêneca, dois autores do mundo antigo, de momentos históricos distintos e com preocupação semelhante, buscam apresentar um referencial reflexivo a seus contemporâneos para que possam atingir a excelência humana, ou seja, serem virtuosos, vivendo de forma virtuosa e conseguirem atingir a finalidade da vida humana: a felicidade.
Porém, a busca pela felicidade passa por escolhas que devem ser guiadas pela razão. É por isso que Aristóteles insiste na idéia de buscar a mediania, ou seja, o equilíbrio nas escolhas diante das ações e emoções como critério para que o homem possa ser feliz. Sêneca, com preocupação semelhante, orienta o que o homem deve fazer para fortalecer sua alma e com isso não se obstinar diante das circunstâncias.
Um dos grandes problemas enfrentados pela ética é o da relação entre o sujeito e a norma. Essa relação é eminentemente tensa e conflituosa, uma vez que todo estabelecimento de uma norma implica no cerceamento da liberdade.
A ética possibilita a análise crítica para a atribuição de valores. Ela pode ser ao mesmo tempo especulativa e normativa, crítica e propositiva da busca da autonomia. Por isso, a ética defende a existência dos valores sólidos e do sujeito que age a partir de valores, com consciência, responsabilidade e liberdade, no sentido da luta contra toda e qualquer forma de violência.
Com esse enfoque, discute-se o tema amizade em Aristóteles por se tratar de um sentimento desenvolvido pelos seres humanos, que pelo fato de serem animais políticos, ou seja, viverem em sociedade, este tema torna-se importante, pois perpassa todas as relações sociais. É por isso que Aristóteles demonstra que há várias espécies de amizade e cada uma delas está diretamente relacionada com o que os homens buscam na relação que estabelecem.
Assim, tão importante quanto à vida virtuosa é a consciência das relações amistosas que o homem estabelece e, sobretudo, se as mesmas estão pautadas em princípios e valores que contribuem ou não para a realização do bem comum. Disso resulta a exigência do tema amizade como reflexão ética.
A abordagem de Sartre da liberdade como valor e responsabilidade no sentido de possibilitar a reflexão diante de problemas contemporâneos aos homens hodiernos, entendendo que os valores são construídos e, portanto, não há valores e ou modelos pré-definidos, mas sim que ao agir do homem tem o poder de estabelecer os valores diante dos quais terá responsabilidade.
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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Justiça platônica

Estas são algumas anotações sobre Justiça, captadas no livro A República do filósofo grego Platão.

No livro 3 de A República é visto que a base de sustentação do Estado é o estabelecimento da justiça entre as pessoas. Sem relações de justiça não há a mínima possibilidade de haver harmonia e estruturação do Estado em si mesmo. É a justiça que garante a participação de todos no processo social e político da cidade.
Sobre a participação de todos no bem comum é necessário frisar que a concepção platônica não fere de modo algum a individualidade dos membros da sociedade, pois é em vista do bem de todos que cada um deve colocar o seu interesse pessoal. Se o indivíduo não renuncia a parte de sua individualidade, a sociedade pode deixar simplesmente de existir. A luta pelo bem comum não é a luta contra o bem individual, já que ela permite que o todo prevaleça e, assim sendo, que o individual também tenha seu espaço preservado.
A justiça diz respeito a uma atividade interna do homem, aquilo que ele verdadeiramente é. A justiça não deve permitir que qualquer uma das partes internas da alma se dedique a tarefas alheias nem que interfiram umas das outras. A justiça consiste em dispor, de acordo com a natureza, os elementos da alma, para serem dominados ou dominar uns aos outros. A injustiça é resultado de uma ação conduzida pela ignorância, que leva à ingerência, à sedição dos elementos da alma, fazendo os elementos da alma governar uns aos outros não de acordo com a natureza. .
A justiça não consiste em uma convenção estabelecida como lei pelos homens, diante da lei natural, para defender os fracos contra os mais fortes. Para Platão a Justiça na cidade e no indivíduo é a mesma, ou seja, é a unidade da ordem. A cidade é um grande todo integrado por indivíduos, famílias e classes sociais com atividades e interesses muito distintos. Não seria possível uma entidade social se entre suas diversas partes não reinasse uma ordem rigorosa que reduzisse a diversidade à unidade, assinalando a cada parte o lugar e a função que lhe correspondem dentro da totalidade. É a mesma ordem que deve reinar dentro de cada um, pois a justiça é uma virtude da alma que introduz unidade dentro do composto humano.
O posicionamento político de Platão baseou-se num propósito de restabelecimento de novos patamares para uma sociedade dispersa e sujeita ao bel-prazer dos que detêm o poder. Com ele, a sociedade pode vislumbrar novas perspectivas através da participação de todos num ideal comum, isto porque, de nada adianta ter um rei filósofo a administrar o Estado se os cidadãos não se engajam no mesmo ideal de justiça e Bem comum.
Para que haja justiça em todo o contexto da cidade, cada cidadão deve desenvolve-la dentro de si. O homem deve trabalhar a sua inteligência voltado para esse objetivo. Para isso, tem que elevar o seu entendimento acima do senso comum, compreendendo que há uma realidade superior à que enxergamos com os nossos sentidos materiais. Se o indivíduo só der valor àquilo que existe no mundo sensível, permanecerá na mediocridade humana e apenas viverá de acordo com as convenções do meio em que vive, achando, inclusive, a injustiça uma coisa normal, tomando-a muitas vezes como justiça. Mas, a verdadeira justiça é a que existe no mundo das idéias, onde tudo é perfeito e eterno, e, é essa justiça que deve ser copiada para que haja uma “República” perfeita. Para isso, o indivíduo precisa transcender à sua realidade e vislumbrar essa verdade.
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domingo, 2 de maio de 2010

O Pragmatismo e Nietzsche

O pragmatismo, mesmo sendo conhecido como uma corrente de pensamento tipicamente norte-americana teve simpatizantes tipicamente europeus. Nietzsche é um dos exemplos que foi reconhecido por muitos como tendo uma postura pragmática no campo da teoria do conhecimento. A sua postura foi pragmática nas suas reflexões filosóficas no que concerne à busca da Verdade, essa verdade com ‘V’ maiúsculo tão almejada pelos filósofos alemães a exemplo de Kant e Heidegger.
Richard Rorty declarou que “Como um bom americano, e como alguém que se pensa como um pragmatista, é claro que sou inclinado a ver o pragmatismo como tendo duplicado todas as melhores coisas de Nietzsche...”. Duplicar nessa assertiva não significa simplesmente copiar, e sim dar continuidade, aumentando o alcance da das suas reflexões e principalmente analisar mais amplamente as suas conseqüências, haja visto anteriormente, que se as idéias não tiverem conseqüências, no pragmatismo, também não têm utilidade.
Nietzsche se situa em uma posição onde se perdeu toda a ilusão sobre a chance de estabelecer verdades definitivas sobre as coisas. É essa consciência que estará na origem do tipo de análise filosófica dele. Se não há mais um “mundo-verdade”, então o “espírito livre” saberá que existem apenas diferentes “interpretações”. E sua tarefa será interpretar as interpretações. Se o “cristianismo” não é mais a “verdade”, mas “apenas uma perspectiva entre outras”, é como tal que ele deve ser analisado.
A finalidade da vida humana não é tentar encarnar em coisas maiores do que o meramente humano. Ele criticou duramente essa idéia declarando que todas as crenças humanas são erros e mentiras. O conhecimento não possui um fim em si mesmo. Isso é uma concordância notória entre Nietzsche e os pragmatistas, pois a formação de crenças está a serviço dos desejos humanos. Sendo “crenças” um “hábito de ação”, estas são simplesmente uma forma de conseguirmos o que queremos.
Rorty afirma que “O filosofar pragmatista começa com a sugestão de Kant de que a verdade empírica é uma questão de coerência entre nossas representações...”. Nietzsche e os pragmatistas vão mais adiante com a negação da diferença entre a coisa-em-sim e o fenômeno, ou seja, entre o empírico e o transcendental. Eles atuam com um determinado efeito sobre o existir. Eles operam com um postulado prático que tem por objetivo levar a uma aprovação integral da existência.
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Algumas questões de filosofia moral

Considerações sobre o pensamento de Hannah Arendt sobre filosofia moral.

Para tecer suas reflexões, Hannah Arendt se utiliza de um personagem bastante conhecido, Churchill, e de seus atos, como referencia para estabelecer uma linha de pensamento: as coisas que tendem a grandeza, como nobreza, dignidade e firmeza, permanecem na sua essência iguais através dos séculos.
No entanto, logo a seguir ela parece contrariar esse pensamento dizendo que o padrão de moralidade foi trocado por um outro conjunto de costumes e condutas. Ela diz que havia algo errado com o pensamento da moral como algo previamente estabelecido, que o único novo princípio moral veio a ser, não a afirmação de “novos valores”, mas a negação da moralidade.
Ela cita como exemplo desta mudança de comportamento moral o que ocorreu na Rússia de Stalin e na Alemanha de Hitler. Mas acredita ser, dos dois, o nazismo na Alemanha o exemplo mais contundente da quebra de moralidade; e que essa mudança ocorreu duas vezes: na entrada e na saída de Hitler.
Arendt pondera que a questão moral permaneceu por um tempo latente devido ao horror que se apoderou das pessoas, “um horror mudo no qual não se aprende nada além daquilo que pode ser diretamente comunicado”. Entretanto, segundo ela, esta questão moral vinha se reavivando nos últimos anos (esta conferência foi realizada em 1965). E não foi um, mas vários fatores que influenciaram neste reavivamento. Entre estes fatores está a necessidade de julgar os criminosos de guerra, que levou a consideração destes assuntos do ponto de vista individual e não do ponto de vista de sistema e organizações, o que leva a culpa e responsabilidades pessoais e a consideração destes assuntos a partir de um ponto de vista moral.
Aquele horror mudo que ela citou anteriormente se desfaz em frente aos tribunais porque as pessoas passam a lidar com um discurso ordenado onde não se trata de criminosos comuns, mas de pessoas que agiram de acordo com um regime que lhes foi imposto (Arendt não se atém àqueles que agiram criminosamente porque sempre quiseram agir assim e o regime permitiu).
Arendt afirma que, apesar destas questões morais serem trazidas a tona, eram, de certa forma, desviadas do foco central, devido ao fato de que as questões morais envolvidas eram vistas e discutidas de forma particularizada e não geral.
Ela comenta casos em que pessoas (inclusive ela) escreveram e julgaram outras pessoas que cometeram erros, e nestes casos em vez do público e dos leitores se voltarem contra aqueles que haviam cometido o erro, ou contra uma instituição ou sociedade em geral, se voltavam contra aqueles que julgaram o ato como errado.
A partir destes pensamentos, Arendt chega a algumas conclusões. A primeira delas é que ninguém pode sustentar que a conduta moral seja algo evidente, mas pode-se dizer que o conhecimento moral, o conhecimento do que é certo ou errado é evidente; desta forma, ela separa o conhecimento da conduta. Isto se deve ao fato de as inclinações e tentações estarem arraigadas na natureza humana, embora não na razão humana.
Deste ponto em diante Hannah Arendt se utiliza dos pensamentos de Kant para delinear o pensamento de que o homem não faz o mal pelo mal. A conduta moral parece, para ela, depender da relação do homem consigo mesmo. Visto que o homem tem conhecimento do que é certo e do que é errado e que ninguém quer ser mau, ao fazer algo errado o homem está indo em contradição consigo mesmo. Desta forma, não fazer o mal não está relacionado com o respeito pelo outro, e sim, com o auto-respeito.
A segunda conclusão é de que a conduta moral nada tem a ver com obediência a qualquer lei que é dada externamente. Se o homem se vê obrigado a obedecer e a fazer algo, isto significa que ele está obedecendo a sua própria razão e que a lei que ele dá a si mesmo é válida para todas as criaturas racionais. Uma vez que, se ele não quer se contradizer age de maneira que a máxima de sua ação possa se tornar uma lei universal.
Arendt diz que se a tradição da filosofia moral pode concordar em algo, este algo é que é impossível ao homem fazer coisas más deliberadamente, querer o mal pelo mal. Diz também que todo mal radical tem origem, no fundo do desespero. Conclui-se daí que o mal verdadeiro é aquele que produz nas pessoas um horror, o mesmo horror que ela havia comentado antes, que ocorreu na época do nazismo e da última guerra. Um horror mudo devido à existência de homens sobre os quais, segundo ela, tudo que se pode dizer é que seria melhor que não tivessem nascido.
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quarta-feira, 24 de março de 2010

Pragmatismo... o que é isso? - parte II


John Dewey (foto) concebia o papel do filósofo como engajado intimamente na crítica social e não só participando em exercícios abstratos de contemplação que permanecem dissociados da moralidade prática. Encontrava-se particularmente preocupado com o desenvolvimento de uma comunidade democrática num país que parecia encontrar-se em risco de perder o seu compasso moral e espiritual. Para Dewey, a democracia genuína não se referia simplesmente a agências e rituais governamentais, mas, pelo contrário, prendia-se com o processo dinâmico de uma participação diária ativa e igual que incluía, não apenas o aparelho político formal, como também a cultura e a economia, em essência, todas as esferas da vida. O pragmatismo que norteou todo o seu trabalho. Dewey acreditava que toda a idéia, valor e instituição social originavam-se a partir das circunstâncias práticas da vida humana. Não eram nem criações divinas, nem tão pouco refletiam determinado tipo de ideal. A verdade não representava uma idéia à espera de ser descoberta; só poderia ser concretizada na prática. Todas a instituição e toda a crença, analisadas dentro do seu contexto específico, deveriam ser submetidas a um teste para estabelecer a sua contribuição, no sentido mais amplo para o bem público e individual.
Os pragmatistas contestam a argumentação do XVII dizendo que não é preciso tomar a visão como modelo de conhecimento. Podemos pensar nos órgãos dos sentidos com ferramentas para manipular o objeto mas não para nos dar uma idéia final sobre o conhecer.
Os pragmatistas tem como objetivo acabar com a diferença entre conhecer e usar as coisas, e, para combater essa noção é preciso destruir a distinção entre intrínseco e extrínseco. Feita essa distinção desaparece também a distinção entre realidade e aparência, desaparecendo a preocupação de saber se há barreiras entre nós e o mundo.
O chamado senso-comum classifica o pragmatismo de excessivamente antropocêntrico, tratando a humanidade como medida de todas as coisas, desprovido de humildade de noção de finitude humana. Os pragmatistas respondem a esta reação dizendo que o próprio senso-comum não passa de hábito de usar determinados conjuntos de descrições. Na visão pragmatista o sentido de admiração não deve ser confundido com o sentido de que existem coisas fora do alcance dos seres humano. O sentido indesejável de humildade pressupõe que há algo melhor e maior que o humano; o sentido desejável de finitude pressupões apenas somente que existem muitas coisas que são diferentes do humano. Um sentido pragmático nos mostra que há alguns planos do conhecimento onde as ferramentas que dispomos são ainda insuficientes para descobrirmos algo.
Para os pragmatistas o sentido de admiração e mistério que era associado pelos gregos ao não humano é transportado para o futuro humano. A humanidade do futuro será como a atual, porem superior de maneiras ainda impossíveis de imaginar.
A sugestão pragmatista é que se tratem as coisas do universo como se fossem números, por ser muito difícil pesar nestes como possuidores de naturezas intrínsecas, sendo, por conseguinte, difícil descrevê-los com linguagem essencialista. A sugestão é que se pense nas coisas como semelhantes à números baseado na teoria de que “não há nada para ser conhecido sobre eles exceto uma infinidade grande, e para sempre expansível, rede de relação com outros objetos.” Assim, não haverá mais descrição do objeto real fazendo oposição com o objeto aparente.

(Fim)
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quarta-feira, 17 de março de 2010

Pragmatismo... o que é isso? - parte I


A definição de Pragmatismo foi criada em 1878, por Charles Pierce no ensaio filosófico “Como tornar claras as nossas idéias”. Anos depois, Pierce declarava ter inventado o nome Pragmatismo para sua teoria a qual dizia que o significado racional de palavras e expressões consiste somente em seu alcance sobre a conduta da vida. Vinte anos depois o termo Pragmatismo foi introduzido na filosofia por William James por meio de um relatório no qual ele fazia referência à doutrina exposta por Pierce no referido ensaio. James generalizou o método pragmático, desenvolvendo isto de uma crítica da base lógica das ciências em uma base para a avaliação de toda a experiência. James argumentou que o significado de idéias só é achado em termos das possíveis conseqüências destas. Se estiverem faltando conseqüências, as idéias não têm sentido. Ele foi avesso à sistemas metafísicos absolutos.
Pierce distinguia duas versões fundamentais de pragmatismo que eram o Metodológico e o Metafísico. O Metodológico não tinha como objetivo definir a verdade ou a realidade, mas desenvolvia um procedimento para determinar o significado das proposições. A proposta era sugerida pela exigência de achar um procedimento para fixar crenças, que podia ser científico ou experimental. No Metafísico, as teses fundamentais consiste em reduzir a verdade à utilidade e a realidade ao espírito. Esta tinha concordância com os espiritualistas franceses. Seu pressuposto era o princípio em comum com o pragmatismo metodológico, que é a instrumentalidade do conhecimento. Mas esse pressuposto é entendido e realizado de modo diferente; procura-se evidenciar a dependência da totalidade dos aspectos do conhecimento em relação à exigências da ação e às emoções em que estas se concretizem, pois as ações e os desejos humanos condicionam a verdade, inclusive a verdade científica.
Richard Rorty argumenta que o pragmatismo americano começou com a adoção de uma crença como hábito de ação. A importância disto é que se evita pensar em uma crença como uma representação, evitando também a questão de se esta representa o mundo como ele realmente é ou como nos parece ser. Substituir reflexões sobre o que representa uma crença por questões sobre a utilidade de uma crença foi uma trabalho realizado por Willian James e por John Dewey, que eram defensores e difusores do pragmatismo. Eles entendiam que a escola democrática devia formar gente pronta para a ação, capaz de, por si mesmo, pela pesquisa ou pela atuação, encontrar os caminhos para o seu lugar na sociedade.

(continua...)
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Agilidade filosófica


Essa anedota expressa bem a idéia do que seja Filosofia...

Um professor de Filosofia entra na sala de aula, põe a cadeira em cima da mesa e escreve no quadro: "Provem-me que esta cadeira não existe".

Apressadamente, os alunos começam a escrever longas dissertações sobre o assunto. No entanto, um dos alunos escreve apenas duas palavras na folha e entrega-a ao professor.
Este, quando a recebe, não pode deixar de sorrir depois de ler:

"Que cadeira?"
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A morte de Deus

"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas." Friedrich Nietzsche


Como matar o "imatável"? Como destruir o "indestruível"? Como matar o que nunca se viu, nem se tocou, nem sentiu o cheiro, nem se ouviu... há àqueles que dizem que o sentem. Mas sentem como? Eles não explicam!
Aí eu pergunto: - Será que algum dia Deus esteve vivo? Será que já existiu? Precisamos dele para existirmos ou ele precisa de nós para existir?
Nem Nietzsche com o seu Zaratrusta conseguiu sanar essa questão. Ele simplesmente logrou um caminho diferente, genial, extremamente ousado e filosoficamente fantástico.

"Deus está morto" é talvez uma das frases mais mal interpretadas de toda a filosofia, vista apenas como uma simples declaração de ateísmo, demonstrando uma análise descontextualizada da frase.
O dito, na verdade, anuncia o fim dos fundamentos transcendentais da existência, de Deus como justificativa e fonte de valoração para o mundo, tanto na civilização quanto na vida das pessoas. Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas. Os homens, não mais procurando enxergar uma realidade sobrenatural, poderiam começar a reconhecer o valor deste mundo. Assumir a morte de Deus seria livrar-se dos pesados ídolos do passado e assumir sua liberdade. Essa possibilidade seria de uma responsabilidade tão grande que Nietzsche acreditava que muitos não estariam dispostos a enfrentá-la. É muito mais fácil se apoiar em mitos, deuses e coisas transcendentais do que enfrentar a própria realidade.

Por isso, tenho certeza de que esse "pensar nietzscheano" correrá muito ainda através dos tempos...
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sábado, 30 de janeiro de 2010

Arte


"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida." (Nietzsche)

A arte precisa ou da solidão, ou da miséria, ou da paixão. É uma flor de rocha, que exige um vento áspero e rude.
A arte tem dois meios de nos desagradar: um é não gostarmos dela; o outro, é gostarmos racionalmente, pois arte é pra ser sentida e não pensada, racionalizada.
A arte é a captura do essencial de forma acidental. Quando menos se espera vem à inspiração que faz o espírito aflorar e dele brotar o belo.

E como dizia Platão, "O belo é o esplendor da verdade".

Para que uma arte nova e forte possa realmente nascer e perdurar, é preciso que se desconstrua primeiro o mundo artificial em que estamos, para construir então aquilo que nos torne plenos e que faça com que acreditemos que vale a pena estarmos vivos.
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Arte para que arte?

Vivia num mundo incerto
No mar buscava o certo
A chave de saber encarar
A arte de saber amar

Arte para que arte?
Sonho para que sonho?
E levamos a vida na inércia
Dormindo o sonho do criador

A arte está no tocar
Nas palavras para recitar
No som, no toque
A arte está no amar

Sopra o vento
Canta o mar
A lua observa
A arte que a natureza tem de encantar.

Eva Borges
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sabedoria

"Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância." Sócrates

Saber que não sabe é a maior prova de sabedoria. Ou melhor, aceitar que não sabe, pois isso que é o mais difícil.
Quantas vezes a gente finge que sabe das coisas só pra não “ficar por baixo”?
Ou então por simples orgulho de não admitir que tenha limitações?
Um grande exemplo disso são os grandes acadêmicos que pensam que são os donos do conhecimento, a exemplo dos sofistas da Grécia antiga, largamente citados por Sócrates e Platão.

A sabedoria pode estar ao alcance de todos, porém devemos ter consciência das nossas limitações. É claro que sabemos de muitas coisas, as ciências avançam e o conhecimento cresce cada vez mais. Mas, a vida é dinâmica e constantemente pede novas considerações sobre um mesmo conhecimento. E existe tanta coisa entre o céu e a terra, e, principalmente fora da Terra que ainda nem cogitamos conhecer...
Então, quem quiser bancar o sabe-tudo, assuma o risco de cair no abismo do erro e das ilusões.

Admitir que não sabe é o primeiro passo pra vir a saber. Não achar que é o dono da verdade porque sabe um tanto mais, é um grande passo pra alcançar, quem sabe um dia, a tão almejada sabedoria.
Eu, por enquanto, vou seguindo sem saber muito, pois quem muito sabe, mais tem responsabilidade.
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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O que é Filosofia?

Esta é uma questão não muito simples de responder. Uma das formas mais fáceis de responder é dizer que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando em seguida os textos deles. Bem simples! Mas, essa resposta tá longe de ser satisfatória.
Em geral, entendemos a filosofia como algo enigmático, profundamente abstrato e distante da realidade. Essa visão da filosofia decorre dos complexos trabalhos de pensadores que, ao longo da história, refletiram e buscaram diferentes respostas sobre questões que continuamente fazemos ao longo de nossa existência. Indagações sobre o conhecimento, sobre os valores, sobre a natureza, sobre a beleza, sobre o homem.
Essas inquietações decorrem da necessidade que todo ser humano tem de compreender o significado do mundo e de si mesmo. Na busca dessa compreensão criamos novos significados, questionando e tecendo uma teia de relações cada vez mais abrangentes que nos indiquem respostas, mesmo que provisórias.
Desta forma, o primeiro passo para a filosofia é a inquietação que conduz ao questionamento. O objeto da filosofia é a reflexão, o movimento do pensamento que nos permite recuar, nos distanciarmos dos fatos aparentemente banais para buscarmos seus fundamentos.

Pra que serve a Filosofia?? Só entrando em contato com ela pra saber...
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