quinta-feira, 10 de maio de 2012

O casamento: uma exigência social

Em toda parte, existe uma distinção entre o casamento, isto é, um vínculo legal e aprovado pelo grupo entre um homem e uma mulher, e o tipo de união, permanente ou temporária, que resulta do consentimento ou da violência. Todas as sociedades possuem algum modo de estabelecer uma distinção entre as uniões livres e as uniões legítimas.
Em primeiro lugar, quase todas as sociedades conferem alto grau de distinção ao estado de casado. Onde existem gradações de idade, estabelece-se uma relação entre o grupo de adolescentes mais jovens, os solteiros menos jovens, os casais sem filhos e os adultos com plenos direitos.
O que é ainda mais notável é o verdadeiro sentimento de repulsa que a maioria das sociedades demonstra para com os solteiros. De modo geral, pode-se dizer que entre as chamadas tribos primitivas não existem solteiros, pela simples razão de que estes não poderiam sobreviver.
Um fato marcante neste aspecto foi um encontro do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, entre os Bororo do Brasil Central, com um homem de cerca de 30 anos de idade, sujo, mal alimentado, triste e solitário. Quando Lévi-Strauss pergunta se o referido homem estava seriamente doente, a resposta dos nativos constituiu uma surpresa: que tinha o coitado? - absolutamente nada, apenas era solteiro. De fato, os Bororo são uma sociedade onde o trabalho é sistematicamente dividido entre o homem e a mulher, e somente o estado de casado permite ao homem beneficiar-se dos frutos do trabalho da mulher; incluem-se aí a eliminação dos piolhos, a pintura do corpo, a depilação e ainda os alimentos vegetais e os alimentos cozidos, pois a mulher bororo lavra o solo e fabrica as panelas de barro. Numa sociedade assim, um solteiro é, na realidade, apenas meio ser humano.

Levando-se isso ao pé da letra, conclui-se que um homem ou mulher, que voluntariamente resolve não casar e ser solteiro a vida inteira, como tem acontecido com frequência na sociedade moderna, estaria matando a metade de si mesmo, condenando-se a ser meio homem ou meia mulher... Seria isso mesmo?

Adaptado de Claude Lévi-Strauss, do livro “A família”, cap. 1. - 1972.
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