sexta-feira, 9 de abril de 2010

Algumas questões de filosofia moral

Considerações sobre o pensamento de Hannah Arendt sobre filosofia moral.

Para tecer suas reflexões, Hannah Arendt se utiliza de um personagem bastante conhecido, Churchill, e de seus atos, como referencia para estabelecer uma linha de pensamento: as coisas que tendem a grandeza, como nobreza, dignidade e firmeza, permanecem na sua essência iguais através dos séculos.
No entanto, logo a seguir ela parece contrariar esse pensamento dizendo que o padrão de moralidade foi trocado por um outro conjunto de costumes e condutas. Ela diz que havia algo errado com o pensamento da moral como algo previamente estabelecido, que o único novo princípio moral veio a ser, não a afirmação de “novos valores”, mas a negação da moralidade.
Ela cita como exemplo desta mudança de comportamento moral o que ocorreu na Rússia de Stalin e na Alemanha de Hitler. Mas acredita ser, dos dois, o nazismo na Alemanha o exemplo mais contundente da quebra de moralidade; e que essa mudança ocorreu duas vezes: na entrada e na saída de Hitler.
Arendt pondera que a questão moral permaneceu por um tempo latente devido ao horror que se apoderou das pessoas, “um horror mudo no qual não se aprende nada além daquilo que pode ser diretamente comunicado”. Entretanto, segundo ela, esta questão moral vinha se reavivando nos últimos anos (esta conferência foi realizada em 1965). E não foi um, mas vários fatores que influenciaram neste reavivamento. Entre estes fatores está a necessidade de julgar os criminosos de guerra, que levou a consideração destes assuntos do ponto de vista individual e não do ponto de vista de sistema e organizações, o que leva a culpa e responsabilidades pessoais e a consideração destes assuntos a partir de um ponto de vista moral.
Aquele horror mudo que ela citou anteriormente se desfaz em frente aos tribunais porque as pessoas passam a lidar com um discurso ordenado onde não se trata de criminosos comuns, mas de pessoas que agiram de acordo com um regime que lhes foi imposto (Arendt não se atém àqueles que agiram criminosamente porque sempre quiseram agir assim e o regime permitiu).
Arendt afirma que, apesar destas questões morais serem trazidas a tona, eram, de certa forma, desviadas do foco central, devido ao fato de que as questões morais envolvidas eram vistas e discutidas de forma particularizada e não geral.
Ela comenta casos em que pessoas (inclusive ela) escreveram e julgaram outras pessoas que cometeram erros, e nestes casos em vez do público e dos leitores se voltarem contra aqueles que haviam cometido o erro, ou contra uma instituição ou sociedade em geral, se voltavam contra aqueles que julgaram o ato como errado.
A partir destes pensamentos, Arendt chega a algumas conclusões. A primeira delas é que ninguém pode sustentar que a conduta moral seja algo evidente, mas pode-se dizer que o conhecimento moral, o conhecimento do que é certo ou errado é evidente; desta forma, ela separa o conhecimento da conduta. Isto se deve ao fato de as inclinações e tentações estarem arraigadas na natureza humana, embora não na razão humana.
Deste ponto em diante Hannah Arendt se utiliza dos pensamentos de Kant para delinear o pensamento de que o homem não faz o mal pelo mal. A conduta moral parece, para ela, depender da relação do homem consigo mesmo. Visto que o homem tem conhecimento do que é certo e do que é errado e que ninguém quer ser mau, ao fazer algo errado o homem está indo em contradição consigo mesmo. Desta forma, não fazer o mal não está relacionado com o respeito pelo outro, e sim, com o auto-respeito.
A segunda conclusão é de que a conduta moral nada tem a ver com obediência a qualquer lei que é dada externamente. Se o homem se vê obrigado a obedecer e a fazer algo, isto significa que ele está obedecendo a sua própria razão e que a lei que ele dá a si mesmo é válida para todas as criaturas racionais. Uma vez que, se ele não quer se contradizer age de maneira que a máxima de sua ação possa se tornar uma lei universal.
Arendt diz que se a tradição da filosofia moral pode concordar em algo, este algo é que é impossível ao homem fazer coisas más deliberadamente, querer o mal pelo mal. Diz também que todo mal radical tem origem, no fundo do desespero. Conclui-se daí que o mal verdadeiro é aquele que produz nas pessoas um horror, o mesmo horror que ela havia comentado antes, que ocorreu na época do nazismo e da última guerra. Um horror mudo devido à existência de homens sobre os quais, segundo ela, tudo que se pode dizer é que seria melhor que não tivessem nascido.
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Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

grato pela visita, sinta-se a vontade pra aparecer mais e refletir por lá, eu gosto dos seus espaços virtuais!

te sigo...se quiser, me siga, abraço!